Miguel Jacob e Válter Ferreira

Estágio clínico em Fortaleza, Brasil

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Miguel Jacob licenciou-se em Ciências da Nutrição e Alimentação e fez um mestrado em Nutrição Clínica. Válter Ferreira foi fisioterapeuta, em diversos contextos, durante 6 anos. Ambos conseguiram realizar um sonho antigo e são agora finalistas do Mestrado Integrado em Medicina (MIM) da UAlg.  Realizaram um estágio de oito semanas, o elective, em Fortaleza (por opção), considerada uma das 10 cidades mais perigosas do mundo.

Válter representa todos aqueles alunos que, por algumas décimas, veem o sonho de poder ser médicos desvanecer-se. No final do secundário não ingressou no curso de Medicina por apenas uma décima. Por sua vez, Miguel, que já exercia atividade profissional como nutricionista, sentiu que só a visão holística que a Medicina tem sobre o doente o realizaria plenamente, ao permitir um cuidado em todas as suas vertentes e uma intervenção muitas vezes decisiva na vida do ser humano. Em 2012, entraram no MIM, um curso exclusivo para licenciados, “com um método de ensino baseado no Problem Based Learning (PBL) e com um currículo totalmente diferente e inovador”.

Ambos tinham interesse pela área da Emergência Médica e do Trauma. Miguel documentou os melhores sítios para realizar o seu elective e “o Brasil, especificamente Fortaleza, surgiu como uma oportunidade quase lógica”, confidencia. “A priori, por se tratar de uma das 10 cidades mais perigosas do Mundo e por ter o centro de referência do nordeste brasileiro em Emergência Médica e Trauma, o que permitiria um contacto privilegiado com esta área. Depois, porque a Clínica Médica (Medicina Interna) do Hospital Geral de Fortaleza teria certamente casos interessantíssimos de doenças tropicais, que dificilmente iríamos ver, com tanta frequência, em Portugal”. O estágio foi desenvolvido em dois hospitais, o Hospital Geral de Fortaleza (HGF) e o Instituto José Frota (IJF).

“Inicialmente foi um grande choque cultural. O país tem condições muito deficitárias também no campo da Saúde”, afirma Válter. No entanto, o quase médico realça o acolhimento por parte de todos os profissionais de saúde que “foram inexcedíveis no apoio, facilitando muito a adaptação, tanto à cidade, como ao contexto hospitalar.”

Já para Miguel, esta experiência, num país completamente diferente, onde se faz medicina com extrema competência e dedicação, não obstante as limitações de meios, permitiu-lhe crescer e amadurecer profissionalmente e, tem a certeza, que marcará a sua carreira médica. Questionados sobre como é exercer Medicina em Fortaleza, comparativamente a Portugal, ambos respondem que é um desafio constante. Miguel reconhece que “o conhecimento médico é globalmente idêntico em todo o Mundo. O que não é idêntico são os meios para colocar esse conhecimento em prática.” Perante esta realidade, Miguel faz questão de realçar o Serviço Nacional de Saúde português, “ao qual não damos, muitas vezes, o crédito merecido, e é indiscutivelmente um excelente serviço de saúde”.

Para Válter, a maior de todas as diferenças verifica-se, essencialmente, ao nível das condições que estão disponíveis aos profissionais de saúde num e no outro país. A dedicação e o empenho são idênticos, no entanto, refere, “ em Fortaleza é preciso fazer muito mais, com muito menos”. Válter e Miguel acreditam que, mais do que uma vocação, a profissão médica pode, e deve, ser vista como uma missão. Consideram que o médico é um privilegiado na sua atividade, pois dispõe de meios e conhecimentos para tratar, restabelecer a dignidade e salvar vidas. Para eles, “este privilégio deverá ser todo dedicado ao doente”.

Como disse em tempos o professor Abel Salazar, “quem só sabe de Medicina, nem Medicina sabe”. Válter e Miguel estão bem cientes desta máxima, pelo que defendem: “um médico não cresce apenas nas faculdades de medicina e nos hospitais, mas deverá ser uma entidade muito mais global e para a qual concorrem, seguramente, experiências como a que tivemos oportunidade de vivenciar neste nosso elective, em Fortaleza, capital do estado do Ceará, no Nordeste brasileiro”. 

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